10- Aplicando os princípios sob o Evangelho da Graça.Terceira Parte

Aplicando ao ambiente do Cristianismo nós percebemos ainda:

1- Jesus não condenou que se cobrasse a taxa do texto citado anteriormente. No entanto demonstrou que não se sentia obrigado a entregar por ser o Senhor do Templo e ser maior que o Templo. Pelo menos assim entende comentaristas que também pesquisaram muitos outros.

2- Daí podemos concluir que uma Igreja pode estabelecer uma taxa "per capita" para sugerir aos membros uma quantia pequena (estas taxas sempre eram pequenas, centavos ) que seria entregue voluntariamente e não por constrangimento, para que se pague as contas de água e luz, material de limpeza, etc. mas se não o fizer também não erra nisso, pois existem outros meios de se receber ofertas para este mister (mas não do dízimo, que pertence aos levitas).

3- O crente não mais tem obrigações para com o Templo de Jerusalém, pois cada um é o Templo do Espírito Santo. O princípio aqui aprendido mostra que uma Igreja Local pode muito bem sugerir maneiras de se ofertar mas não exigir que se cumpra como lei. Nem mesmo pode fiscalizar a entrega dos dízimos nem coagir, através de promessas de disciplinas, a quem não o faz.

4- Por outro lado a Igreja tem o papel de discipuladora dos novatos e deve ensinar o Evangelho em sua plenitude. Uma vez aprendido de verdade o crente, tocado por Deus, fará infinitamente mais do que qualquer lei eclesiástica poderia exigir!! Daí concluirmos que, infelizmente, não se tem ensinado correta e profundamente o Evangelho, pois existe exigências legais, coações, ameaças por parte dos "coletores" eclesiásticos. E o medo erradamente leva o crente a cooperar. Também existem falsas promessas de prosperidade baseados no simples fato de se obedecer por medo ou por negociata com Deus. Assim existem membros que entregam muito mais que o dízimo e não são reconhecidos, porque não alardeiam nem querem ser notados e outros que entregam apenas o mínimo que suas consciências exigem e são glorificados pelos homens!

Alguém, a esta altura poderia incorrer no erro de precipitar-se e julgar erradamente o que estou escrevendo. Mais para frente você notará que somos levados a fazer muito mais que qualquer lei possa exigir e vamos mostrar como realmente é bom começar com o mínimo, isto é, com o dízimo, mas deve ficar claro o princípio do valor do Evangelho que é superior ao valor da letra da lei.
A oferta da viúva pobre, citada anteriormente (Lc 21:1-4) é um exemplo de como Jesus estava ensinando o valor verdadeiro que Deus dá aos nossos esforços; que muitas boas ações ficam ocultas e somente Deus sabe; que muitas "grandes ações" aos olhos humanos na verdade é fruto do orgulho e serve apenas para vanglória, etc.

E assim Jesus deu ênfase nos princípios que fazem o Evangelho ser vivenciado de forma plena e frutificando numa visão de riqueza e abundância material não para si, mas para o próximo, proveniente do amor. Prepare-se nesta visão, leitor, para entendermos a vida de amor da Igreja descrita pelo livro dos Atos.

Debaixo do Evangelho: maior abundância ainda na Igreja de Cristo:

Vamos em frente neste nosso estudo cronológico e vejamos o que aconteceu com a nascente Igreja. Estamos adentrando agora o livro dos Atos dos Apóstolos. A igreja é iniciada de forma oficial quando o Espírito Santo vem para habitar nela. Após o Batismo os cristãos, que receberam poder para de fato levar avante o testemunho do Evangelho, passam a agir em todos os sentidos na plenitude do fruto do Espírito Santo que os havia enchido, que transbordava neles:

"Amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5:22,23)."

Aqui está a base para a vida no Evangelho. A base para a relação com Deus, para a relação com os irmãos e com os necessitados, sejam espiritual ou materialmente. Antes de analisarmos o que aconteceu vamos deixar claro, sem medo, sem preconceitos, sem amarras, o seguinte, que é difícil de se dizer em nosso tempo, mas é a Verdade:

1- Existe alguma vez que Jesus falou diretamente aos discípulos que deveriam entregar dízimos? Que fosse registrado, não. Quando falou aos farisues o fez de forma que demonstrou ser algo normal alguém cumprir com as leis do A.T. e mostrou a eles que deveriam ir muito mais além, se queriam ser chamados de justos.

2- Mas existe algum lugar no Novo Testamento em que Jesus revoga as leis do dízimo? Não. Na verdade sempre Jesus esclarecia mais ainda as leis e acrescentava o sentido mais profundo e espiritual delas. Poderíamos até mesmo ouvir Jesus falando, baseado em outras palavras: "Ouviste o que foi dito, trarás todos os dízimos à casa de Deus. Eu porém vos digo, tragam dez vezes mais que os dízimos e tereis um tesouro nos Céus!" Muitos sairiam tristes "por serem donos de muitas propriedades".

Seria muito comum e normal que a Igreja continuasse a receber dízimos para distribuição entre os "presbíteros dignos de dobrados honorários " (I Tm 5:17,18), entre os missionários, pastores e outros "levitas" da Igreja Cristã, ou para os necessitados. Mas, baseado na Palavra de Deus, não seria normal que as Igrejas locais recebessem dízimos para gastarem com pedras e tijolos, enquanto muitos padeciam necessidade e os apóstolos e pastores precisavam de sustento!!

3- Em qualquer livro do Novo Testamento mostra Igrejas que estabeleceram a obrigatoriedade dos dízimos? Não. Mas vemos algo bem parecido em I Co 16:1-4, mas fruto da vontade de cada um, segundo Deus toca, comentado adiante. E o autor de Hebreus fala muito normalmente sobre dízimos, em Hb 7:6, referindo ao fato de Abrão ter entregue os dízimos a Melquisedeque. Temos também exemplos de Igrejas que socorriam umas às outras com grande esforço e sacrifício!!

4- Em qualquer livro do Novo Testamento existe algum relato de pessoas sendo disciplinadas por não entregarem o dízimo ou ofertas? Não! Houve o caso de Ananias e Safira que foram disciplinados porque mentiram fazendo de conta que imitavam aos outros, entregando tudo que possuíam, e retendo parte. Estavam buscando "status" na Igreja, nome de pessoas bondosas, etc. A mentira é que foi o motivo da disciplina. Pedro esclarece bem o fato, que não tinham obrigação de entregar: retendo seria deles. Mas mentiram. Atos 5:2-11.

Não engane o leitor em pensar que estou sugerindo que não se devem pregar sobre a obediência na entrega dos dízimos e que não se devem recebê-los. Mas estamos estudando a Palavra juntos, mostrando que existem muitos erros praticados nesse assunto e que muitos "levitas" estão passando necessidades por erro da Igreja.

Agora, vejamos Atos:

Atos 4:32 a 5:4 - "Da multidão dos que creram era um o coração e a alma. Ninguém considerava exclusivamente sua nenhuma das cousas que possuía; tudo, porém, lhes era comum...

Que diferença o Evangelho faz, quando vivido em plenitude. É claro que nem sempre vamos encontrar, na história da Igreja, algo assim. Somente em dias de reavivamento, pois no normal a Igreja não tem vivido tão cheia do Espírito Santo assim. Este tipo de vida não é fruto de leis, de conceitos, de razões administrativas, de concílios: é fruto da vida que é cheia do Espírito Santo, fruto da plenitude.

Se alguma comunidade, em qualquer lugar do mundo ficar na plenitude do Espírito Santo de tal forma que venha transbordar num grande mover do Espírito, é certíssimo que transbordará também o fruto do Espírito:

"Amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5:22,23)."

E é claro que o resultado será exatamente como vemos no livro de Atos, aplicadas às necessidades circunstanciais pelo Espírito Santo de Deus!! Tem pessoas dizendo que sua Igreja é como a de Atos: olhe ao seu redor e comprove!

... Pois nenhum necessitado havia entre eles, porquanto os que possuíam terras ou casas, vendendo-as, traziam os valores correspondentes, e depositavam aos pés dos apóstolos; então se distribuía a qualquer um, à medida que alguém tinha necessidade.

Com o desenvolver da pregação em Jerusalém, com os milagres e tudo o mais, não somente os viajantes que tinham ido para a festa do Pentecostes precisavam de auxílio, mas muitos de lá mesmo que se convertiam. Muitos pobres e necessitados de todas as maneiras. Depois começaram ainda a vir pessoas das cidades vizinhas (5:16) e a multidão foi somente aumentando.

Alguns poderão considerar que havia tantas doações porque havia muita gente e que poderia acontecer em qualquer época. Isto não é verdade, pois existem muitas pessoas necessitadas aos quais Deus destinou os dízimos de muitas Igrejas, e estão no esquecimento. Até mesmo os congressos onde vão os abastados são proibidos aos de menos posses entre o povo de Deus. Centenas de pastores e membros desejam ardentemente participarem de congressos da Vinde, da Sepal, das denominações, da Mocidade para Cristo, etc, e não podem porque não há distribuição da riqueza material da Igreja!! Na verdade, muitos que vão a tais lugares são exatamente os que desejam fazer apenas turismo!!

Existia muita gente fora de casa sim, mas suponhamos que todos entregassem somente seus dízimos. Primeiramente que uma grande parte não seria entregue aos apóstolos que representavam, na mente dos novos convertidos, os tesoureiros do templo, mas diretamente distribuída aos cristãos levitas, isto é aos pregadores e obreiros, para que tivessem sustento. Logo acabaria e estes ficariam sem sustento, lá em Jerusalém. A parte dos dízimos que a lei determinava fosse levada para o Templo (2/3, menos o que o próprio ofertante comeria com sua família lá em Jerusalém), então seria entregue aos apóstolos, que por sua vez, lembrariam do Antigo Testamento e destinariam estes proventos para os levitas, isto é, a comida para eles mesmos e para os pregadores, como o próprio Barnabé que era levita duas vezes, como judeu e como missionário . A multidão dos que peregrinavam na festa seriam conclamados a voltarem na data certa. Cada qual teria parte de seu dízimo para comer ainda nos dias normais de estarem ali. Eles então sairiam tristes pois queriam permanecer mais tempo, mas não havia comida. Os necessitados não seriam socorridos de forma tão abundante como aconteceu.

Quando os discípulos, movidos na plenitude do Espírito Santo, resolveram acatar a lei do dízimo e das ofertas, aplicando-a ao novo modo de vida da Igreja, tão alegres estavam que a vontade era de fazer infinitamente mais que a letra da lei especificava. Daí as doações de campos, casas, etc. Assim os apóstolos viram que podiam dar o que fosse dos levitas e sobraria para todos os outros necessitados. Não somente levitas; não somente órfãos; não somente viajantes; não somente viúvas, mas todos necessitados! Chegou ao ponto de doarem tudo, o que parece ser o caso de Barnabé:

... José , a quem os apóstolos deram o sobrenome de Barnabé, que quer dizer, filho da exortação, levita, natural de Chipre, como tivesse um campo, vendendo-o, trouxe o preço e o depositou aos pés dos apóstolos.

Não tardou, porém, em aparecer os que não podiam compreender e vivenciar aquilo. Exatamente aqueles que ficaram cheios não do Espírito Santo, mas da influência satânica. Também queriam cooperar, mas por vaidade:

Entretanto, certo homem, chamado Ananias, com sua mulher, Safira, vendeu uma propriedade, mas, de acordo com sua mulher, reteve parte do preço, e, levando o restante, depositou-o aos pés dos apóstolos. Então disse Pedro: Ananias, porque encheu Satanás teu coração, para que mentisse ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? Conservando-o, porventura não seria teu? E, vendendo-o, não estaria em teu poder? Como, pois, assentaste no teu coração este desígnio? Não mentiste aos homens, mas a Deus".

A Igreja Apostólica nem sempre viveu esta plenitude:

Não significa que sempre continuou assim. Na verdade os apóstolos tiveram de doutrinar muito a Igreja, anos depois, para que soubessem ser dadivosas. E é muito provável que em certos casos até o dízimo foi difícil de arrecadar ou de se fazer doar aos necessitados.

As necessidades sempre existiram e sempre existirão. Jesus falou que "os pobres, sempre os tendes convosco". Um novo tipo de necessidade surgiu quando as Igrejas Locais proliferaram: uma comunidade ficava sabendo das necessidades, fomes, calamidades, em locais onde existiam outras Igrejas e então procuravam socorrer. Uma das grandes tristezas que enfrentei em meu ministério nos campos do interior é que as Igrejas das cidades grandes não se lembram de suas Igrejas mães do interior nem dos celeiros que providenciaram grande parte de seus membros e vivem abastadas, enquanto suas co-irmãs sucumbem, com suas paredes a cairem, desfilhadas pela migração constante, sem poderem sequer, muitas vezes, sustentarem um obreiro!! Tragédia, tragédia!! Que tristeza dá em nosso coração quando observamos a falta de amor, de misericórdia!! Os membros ricos passam de largo, longe das casas dos membros pobres! A maioria dos pastores ganham tão pouco porque a Igreja Local rouba os dízimos que pertencem a eles, levitas, e aos outros espalhados pelo mundo que são responsabilidade de cada Igreja também!! E os pastores que ganham o suficiente e que passam ao lado dos colegas levitas, que sabem estão passando por problemas sérios, sem sequer se lembrar de que existe algo chamado de misericórdia e:

"Amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio (Gl 5:22,23)." Analise o leitor por si mesmo!!

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